Questionado por jornalistas sobre suas críticas recentes à rede Carrefour de supermercados e a adesão de integrantes do agronegócio brasileiro ao boicote à rede de supermercados francesa, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (UB), reforçou as criticas à empresa, voltando a classificar a atitude do presidente da rede como um desrespeito ao Brasil.
Ocorre que na semana passada, Alexandre Bompard, presidente mundial do Carrefour, anunciou a suspensão da compra de carne bovina de países do Mercosul, entre elas o Brasil, que responde por 23% da operação global da rede de supermercados.
“Eu me pronunciei, acima de tudo, porque eu fiquei muito indignado quando eu vi a imprensa nacional e local falando sobre esse boicote proposto pelo presidente do Carrefour. Achei aquilo um desrespeito ao nosso país, um desrespeito ao agronegócio, e por isso (...) propus pela 'lei da reciprocidade' que nós [brasileiros] pudéssemos dar a eles o mesmo tratamento”, disse Mauro.
Mauro prosseguiu, afirmando que a adesão ao boicote por boa parte da população e, principalmente, dos proprietários de frigoríficos, que deixaram de fornecer carne à rede, é uma resposta clara dos brasileiros à afronta do presidente do grupo.
“Fico feliz. Ao mesmo tempo não é isso que eu desejava, mas fico feliz que os frigoríficos (...) adotaram esse caminho e o Carrefour ‘tá’ sofrendo as consequências da irresponsabilidade de um presidente que falou o que não devia, desrespeitando o nosso país e o setor do agro brasileiro”, destacou.
Quando perguntado se o Governo do Estado cortaria benefícios fiscais ao grupo, que em solo brasileiro além do Carrefour também opera a rede de supermercados Atacadão, Mauro foi categórico em afirmar que a empresa não recebe nenhum benefício ou “regalia” governamental, pontuando que todas as redes de supermercados são igualmente tratadas em MT.
“O grupo Carrefour não tem incentivos aqui no Estado de Mato Grosso. Nós temos aqui o Atacadão, que é um comércio, e a legislação do comércio não pode ser diferente de um mercado pro outro. Nós não podemos ter tratamento diferenciado dentro de um setor. Isso é muito diferente do setor de grãos, soja, milho, das trades. O tratamento é isonômico para todos aqueles que aderirem à moratória”, concluiu.
REFLEXOS
Segundo informações da Folha de S. Paulo, a chefia brasileira do Carrefour entrou em contato na última semana com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), afirmando que foi “surpreendida” com as declarações feitas por Alexandre Bompard e a reação negativa dos frigoríficos e integrantes do agro nacional à rede.
Após as declarações, acionistas do Carrefour no Brasil – entre eles, herdeiros do bilionário Abílio Diniz (1936-2024) - demonstraram preocupação com os reflexos da crise gerada pela fala equivocada de seu presidente mundial e, segundo expeculações, se comprometeram a cobrar um posicionamento diferente de sua matriz na França.
Todavia, em nota publicada na semana passada, o Carrefour França disse que o boicote à compra de carnes de frigoríficos do Mercosul, anunciada no dia 20 de novembro, “se aplica apenas às lojas [da rede] na França” e que “em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”.
“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, declarou a rede no comunicado.