Segunda-feira, 29 de abril de 2024
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Artigos Sonia Mazetto

Somos o resultado da política ou ao contrário?

Começamos o ano político e quero compartilhar aqui com vocês uma coisa que me incomoda muito: a falta de noção do que é viver em comunidade de muitos cidadãos. É tão nítido ver que, em época eleitoral, as pessoas pedem para atender às suas necessidades pessoais, e só! Pouco importa se a saúde está um caos, desde que ele ganhe os quilos de feijão para fazer uma feijoada para os amigos.

Sabe o que vejo, as pessoas cobram dos políticos o que elas mesmas não fazem. E isso é uma crítica a muitos eleitores, sim! Cobra-se por justiça, por exemplo, mas não pode ter um vale de gasolina, um vale sacolão, que o voto muda e os interesses também. Sabe aquele Brasil de décadas atrás, com o voto de cabresto com a “compra” descarada de eleitores? Vocês acham que mudou muito? Eu acho que não.

O interesse é privado, e chego a escutar “eu acredito que tal candidato é o melhor para o povo, mas não posso apoiar abertamente, porque eu tenho muita coisa a perder”. É a dança dos candidatos, as pessoas abraçam os que vão te dar vantagem, mesmo sabendo que não são os melhores para o cargo público. E na política, não se posicionar pelo o que é mais justo também é uma forma de “falhar” enquanto eleitor.

É só observar quem ocupa as cadeiras do jogo político que vivemos. Grandes empresários, agricultores, membros da elite social, enfim, pessoas que possuem verba para conquistarem essa tal “visibilidade”. Ou seja, você candidato que tem interesse em lutar em prol, de verdade, do povo, da comunidade, de ideias inovadoras, sinto dizer, mas sem verba o seu caminho será bem mais difícil.

Pensando bem, o povo tem o líder que merece, porque como que vai ser diferente com esse tipo de comportamento? Isso é horrível, porque os eleitores reclamam que a política no Brasil é vergonhosa, que estão cansados dos mesmos políticos, mas têm atitudes egoístas, preocupados no que vão ganhar com determinado candidato. Então, o povo está tendo a devolutiva da própria atitude diante dos políticos!

Pergunto-me se os políticos são antiéticos como reflexo desse comportamento da população ou a população é assim porque é reflexo do comportamento dos políticos? Tenho visto que as duas afirmações são verdadeiras, infelizmente. E não acredito que isso seja cultural, mas sim um mau costume, uma falta de noção total de coletividade. Sabe-se criticar os políticos e pedir algo em troca, mas sabemos auxiliar nesse processo político para atuar junto no que precisa ser melhorado? Não.

Antes de tudo, e isso vale para os políticos e eleitores, qual a expansão do seu interesse e quem ele abrange? Por exemplo, a sua única luta é para que arrumem o buraco na frente da sua casa, abrangendo apenas a você e a sua família. Infelizmente você sempre ficará nessa pequenez de que seu interesse é importante, mas na sociedade não funciona assim. Mesmo que o buraco da sua rua seja arrumado, não é só nela que você percorre, mas sim de toda a cidade.

Por isso é preciso entender, de uma vez por todas, que vivemos em coletividade e votar ou eleger alguém é ter essa pessoa por anos como um “representante” das necessidades da comunidade. Isso mesmo, anos, não adianta votar pelo o que você recebe hoje, mas sim pelo benefício no contexto geral depois.

Sabemos que o ser humano é movido por interesses, mas existem trocas morais e mais valiosas. Que tal investir em saber e em instruir a autossuficiência dos cidadãos? A maioria dos líderes querem te dar o pão na sua boca, mas eles não querem ensinar qual foi o caminho que eles conseguiram esse pão.

Então eu penso que os nossos políticos precisam ter mais sabedoria, sagacidade, compreensão e mais conhecimento para atuar de modo mais inteligente, que propicie ao cidadão o caminho que ele deve percorrer. E é claro que para isso, o político deve trabalhar nas ferramentas para garantir essa autossuficiência, como por exemplo, instruir os presidentes de bairro a se inscreverem em projetos, ou incentivar a agricultura familiar com redução de impostos, enfim, mostrar para o cidadão que ele também faz parte da construção política.

Enfim, no processo ético político, que compõe a ética da vida, como diz o filósofo Mario Sergio Cortella, somos seres éticos quando respondemos a 3 perguntas fundamentais, eu quero? eu posso? eu devo? Porque “nem tudo que eu quero, eu posso; nem tudo que eu posso eu devo, nem tudo que eu devo, eu quero”. Entre os conflitos das nossas vontades e nossos deveres, devemos ponderar nessa afirmação, principalmente em ano político.
 
 
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